O curioso caso do “se pague primeiro”

Ao longo de mais de uma década imerso nesse universo de educação financeira, posso dizer, sem medo algum de errar, que já conversei com milhares de pessoas sobre este tema. Nesta jornada, carrego comigo alguns lemas, adoro analogias e sempre escuto perguntas como “você acha que tal investimento é bom?”, “é melhor morar de aluguel ou ter apartamento próprio?”, “e carro, vale mais a pena vender e andar com os motoristas de aplicativo mesmo?”, “investi num carro melhor, fiz bem?”. Sabe qual a resposta que já está na ponta da língua para todas as perguntas dessa natureza? DEPENDE.

O que é bom para mim, pode não ser bom para você. E isso também é fascinante: conheço pessoas dos mais diferentes perfis, com sonhos e desejos completamente diferentes, com visão de vida diferente, com expectativas diferentes, rotinas diferentes… Já tive um casal de clientes que, indo para a ponta do lápis e prestando atenção na rotina que tinham, perceberam que não valia a pena ter carro. Ela passava boa parte da semana trabalhando de casa, ele usava o carro da empresa em que trabalhava para se deslocar de segunda a sexta e ainda tinham a facilidade que o pai dela morava no mesmo prédio e tinha um motorista que podia ajudar nas atividades do dia a dia, como fazer compras no supermercado, levá-la para alguma reunião ou qualquer outra necessidade. No fim de semana, nos momentos de passeio, se não queriam usar o carro da empresa, chamavam um motorista por aplicativo.

Por outro lado, outra cliente optou por trocar o carro popular por um carro de categoria superior. Ela morava na capital e era proprietária de uma pousada no litoral, ou seja, passava a semana pra lá e pra cá, se dividindo entre a administração do negócio e a casa, juntamente com o marido e filhos, que trabalhavam e estudavam na capital. Como esse deslocamento na BR era constante e, por necessidade, muitas vezes acontecia à noite, ela optou por ter um carro mais confortável e seguro.

De acordo com tudo o que acredito, nos dois casos esses clientes foram coerentes nas escolhas que fizeram. Eu levei vários pontos pertinentes para que eles avaliassem, como custo benefício de cada decisão, e eles decidiram por qual caminho seguir. Entenderam qual a necessidade que tinham, fizeram contas, avaliaram as opções e decidiram. Foram decisões opostas, mas ambas certas, pois cada um tinha uma realidade diferente.

De tudo o que já vi e testei em relação às finanças pessoais, tem uma coisa que se encaixa para todo mundo, toda e qualquer pessoa ou família. Isso mesmo: para qualquer perfil, qualquer realidade financeira, para qualquer objetivo. É o “se pague primeiro”. Vou explicar qual a dinâmica desse poderoso aliado que você pode ter.

Quando você recebe o seu salário qual a primeira coisa que faz? A maioria absoluta dos brasileiros paga todas as contas e depois guarda o que sobrar (se sobrar). Está certo? Errado. O “se pague primeiro” é exatamente você inverter essa dinâmica.

Fazendo algumas analogias, você deve tirar a primeira fatia do bolo para você, e não a última, porque você corre um sério risco de ficar sem nada. Então, não esqueça: quando o bolo estiver na mesa, garanta logo o seu pedaço. No avião, a aeromoça sempre avisa: “em caso de despressurização, coloque primeiro a máscara em…?” Isso aí, você! Só depois você ajuda idosos, crianças ou quem precise. Sabe um bom exemplo disso? O nosso Governo. Quem trabalha no regime CLT, pode perceber que no contracheque já vem descontados os impostos. Sabe o que isso significa? Se o Governo, ao invés de já descontar esse valor, enviasse um boleto para cada pessoa pagar o imposto devido, correria um grande risco de não receber. Não é por falta de vontade de pagar, mas, se as contas por algum motivo apertassem e fosse necessário fazer escolhas, certamente deixariam esse boleto para trás para honrar com outras obrigações. Acontece que o Governo não quer correr esse risco, então ele já retém os impostos na fonte. Isso significa que não tem outra opção senão pagar. Minha sugestão é que você faça o mesmo. Não deixe de “se pagar”, não deixe de pagar o seu imposto de renda. O meu é o IRPL, Imposto Rentável Para Leandro. Que tal criar o seu?

Esta simples dinâmica, se honrada, é o que vai te trazer tranquilidade financeira no longo prazo. Isso eu garanto! Considere o valor que você quer pagar como uma obrigação, e trate como prioridade entre o que deve ser pago. Imagino que a pergunta que veio na sua cabeça foi: “mas quanto eu devo me pagar?” ou “não tenho como fazer isso porque ganho pouco”. Respondendo à primeira pergunta, depende da sua realidade financeira, da sua realidade de vida. Quem é solteiro e mora com os pais, por exemplo, geralmente, tem uma capacidade de poupança maior. Já quem é casado e tem um, dois, três filhos, pode ter um orçamento menos flexível. Porém, pelo menos 10% do que ganha já é razoável. E se você está com dificuldade e acha os 10% muito, ok, defina um valor e comece, e faça isso todo mês, e aos poucos encontre espaço para ir aumentando esse valor. Em relação à segunda pergunta, essa eu gosto bastante. O que é “pouco”? Já adianto: não existe pouco ou muito quando se fala de dinheiro, isso é relativo. O que é pouco para você, pode ser muito para mim. O que é muito para mim, pode ser nada para o melhor jogador de futebol do mundo. Agora uma coisa é certa: se você não começa porque acha que é pouco, daqui a um ano vai continuar sem nada, no mesmo lugar. Então, comece, comece! De pouquinho em pouquinho você chega no muito!