Degrau por degrau no mundo dos investimentos

Recentemente, escrevi aqui sobre a escalada da taxa Selic, o que causa, os impactos, consequências e o cenário atual que vivemos no país que levou a isso. Naturalmente, a renda fixa muda de posição, passa a ser mais procurada, trazendo investimentos com um retorno mais interessante e risco baixo. Eu sempre discordei da falada morte da renda fixa que muitos bravaram fortemente em diferentes situações e, se assim for, ela ressuscita com uma certa frequência, hein? Pense bem, independente do seu perfil de investidor, um planejamento financeiro bem-feito ou qualquer assessoria de investimento, indicará para sua carteira um percentual na renda fixa. Desta forma, a tal morte não aconteceu, e no Brasil não vejo previsão para isso no curto prazo.

Investir na renda fixa, sobretudo nesse momento, pode ser bem interessante para balancear a carteira, aproveitar as oportunidades que o momento apresenta, porém, claro, para quem tem mais estômago e conhecimento, investir na renda variável também é bem interessante nesse momento. Muitos papéis descontados, ações, fundos imobiliários, pensando no longo prazo e com tolerância à volatilidade do ano eleitoral e do cenário que vivemos, os frutos lá na frente têm tudo para ser bem interessantes, uma bela colheita. Porém, reforço, não é qualquer ação, qualquer fundo imobiliário, mais que pensar no produto, é fundamental pensar na estratégia, no perfil do investidor, para que se possa construir uma carteira de investimentos mais adequada ao seu perfil, aos seus planos e que seja diversificada o suficiente para proteger os seus investimentos.

Isso exige conhecimento (mais uma vez) ou uma boa orientação, assessoria para tal. Mas não é a primeira vez que vimos um efeito manada em direção à renda fixa, isso acontece sempre que a taxa Selic sobe, tal como se vê o efeito manada para a renda variável quando a taxa Selic cai, e mais gente procura ações, fundos imobiliários e, com isso, fundos de índice. Muitos parecem fazer o supletivo no mundo dos investimentos, pulando a base, os produtos de renda fixa, partindo direto para a bolsa, para a renda variável, expondo ou mesmo ignorando a necessidade da reserva de emergência, e se intitulando como investidores arrojados.

Porém, como diz Warren Buffett: “quando a maré baixar, veremos quem estava nadando nu”. No Brasil, maior parte absoluta das pessoas que poupam, ainda coloca esse dinheiro na poupança ou em produtos que não entendem, por isso, parta do princípio, e ele está nos produtos da renda fixa. Essa modalidade é onde se posicionam os primeiros investimentos, como reserva de emergência, destinada para eventualidades, redução de renda, desemprego, problemas de saúde e oportunidades, para objetivos de curto ou curtíssimo prazo, em que o foco está na liquidez e não na rentabilidade.

O reflexo desse movimento, vimos fortemente entre março e abril de 2020 e também em outras oportunidades, em que a bolsa despencou e muitos fugiram dela desesperadamente, realizando, efetivamente, grandes perdas. Muitos venderam mesmo, porque nem sabiam a razão de estarem lá, fundamentos e teses inexistiram. Por isso, é necessário ter / buscar conhecimento, a fim de seguir o plano (você tem um plano?), com equilíbrio e escolhas assertivas, diversificando e balanceando com coerência, de olho, alinhado com o seu perfil e objetivos. Sim, é muito importante respeitar o seu perfil de investidor, e esse você pode identificar facilmente fazendo um teste no seu banco ou ao abrir a conta numa corretora de valores online, por exemplo.

Recebo frequentemente pessoas procurando pela minha mentoria, consultoria, cursos e através das redes sociais, querendo investir. Nos últimos anos, poucos consideravam investir na renda fixa, pelo menos até conversar um pouco mais e refletir melhor sobre o seu perfil, sobre os seus planos, e isso alinhado a outros pontos, tal como a dinâmica e situação financeira, idade, estrutura profissional e familiar. Tudo isso dá suporte para tal planejamento, carteira, risco, prazo e mais. Poucos refletem isso e querem começar na empolgação, até porque, de um tempo para cá, a renda variável só variava para cima, e a fase em que ela varia também para baixo mostra a volatilidade que é parte da sua natureza.

Para quem está na fase de composição da reserva de emergência, seja prudente e lembre que não é hora de mergulhar na renda variável, siga subindo, degrau por degrau no mundo dos investimentos. Saber o que não fazer também é sinal de conhecimento, ter um plano é fundamental, e segui-lo é respirar fundo e evitar a euforia alheia, muitas vezes desmedida. Cumpra cada etapa de forma coerente, consistente e siga em frente.