Organize as suas finanças e quite as suas dívidas

Começo falando para você que não tem dívidas: sugiro que vá até o final, pois assim poderá ajudar alguém importante para você a sair dessa situação e, claro, quem não tem dívidas, ao ler, compreenderá um pouco mais o desafio de quem está nessa jornada.

Trago de cara um dado alarmante, que de vez em quando revisito, e do qual ninguém quer fazer parte, mas, infelizmente, é a nossa realidade: 60% dos brasileiros gastam mais do que ganham. Isso mesmo: para mais da metade da população, a receita não é suficiente ou até pode ser, mas não vem sendo bem administrada. Isso se deve a vários motivos: um ou mais cartões de crédito mal utilizados, padrão de vida incompatível, falta de planejamento financeiro, compras por impulso e tantas outras “razões”.

Antes de começar a falar sobre quitação de dívidas, acho importante que você entenda a diferença entre endividamento e inadimplência. Vou usar dois exemplos bem práticos para explicar isso. Se você usou o seu cartão de crédito esse mês, significa que você tem dívidas. Quando você passa o cartão na maquineta do estabelecimento ou faz uma compra on-line, você está gerando uma dívida. Se você não pagar essa dívida (no caso, é a fatura do cartão), aí você está inadimplente. Se você tem um financiamento imobiliário, está endividado por 10, 15, 20 anos, o tempo acordado no contrato. Claro, dívidas como a do financiamento de um imóvel ou um carro são dívidas “boas”, no sentido que, se você as assumiu, é por acreditar que tem fôlego e tranquilidade para pagar e seguir mês a mês com o objetivo de realizar o sonho de ter a casa própria ou o carro e mais adiante quitar. Se você atrasa essas parcelas, aí está inadimplente. Se você paga a fatura do seu cartão de crédito e as parcelas do financiamento imobiliário em dia, costumamos dizer que é uma “dívida controlada” porque estão no fluxo do seu orçamento mensal.

Outro pronto interessante para reflexão é que dinheiro está mais ligado à mente do que ao bolso, por isso o pensamento de “ganho pouco, então estou endividado” não é o mais legítimo. No meu dia a dia, vejo clientes que ganham 10, 15, 20, 40, 50 mil ou mais e estão endividados. E não só no sentido de imóvel e carro, mas de empréstimos tomados porque não conseguiram pagar as despesas do dia a dia. Sabemos também de vários jogadores de futebol, ganhadores de reality show, artistas… que ganharam muito dinheiro ao longo da vida e conseguiram acabar com tudo. E não preciso nem dizer que junto com os problemas financeiros vêm outras dores de cabeça e reflexos no relacionamento, na saúde, no trabalho, emocionais e muito mais.

Por outro lado, tem também vários exemplos de clientes que tem um orçamento mais enxuto, mas, com planejamento e cautela, pés no chão, conseguem se organizar e realizar muitos sonhos dentro daquilo que podem.

Conseguem perceber que o dinheiro está mais ligado ao nosso comportamento e escolhas do dia a dia?

Se você está com as contas atrasadas, gastando mais do que ganha, consumindo reserva para honrar com os compromissos financeiros, precisa virar o jogo!

A primeira atitude para quem está no buraco é parar de cavar. Então, pare já de contrair novas despesas. Isso pode doer, mas é por uma fase, até que as coisas estejam organizadas. Priorize pagamentos no débito ou espécie e, se o dinheiro não der para o mês todo, viva com o básico. Repito: é só uma fase. Importante você entender bem as suas dívidas, por isso anote tudo num papel ou planilha: a quem você deve (cartão, banco, parente, amigo…), quanto deve e detalhes do acordo que foi feito, valor da parcela, quantidade de parcelas, juros envolvidos e outros eventuais detalhes. É extremamente importante que você tenha essa visão clara da situação que se encontra. Isso ajuda, inclusive, no seu planejamento e a ter clareza do que deve ser priorizado nesse processo de reestruturação financeira.

Dados os primeiros dois passos acima, é hora de agir. Virar esse jogo só depende de você, mas exige tempo e dedicação. Procure todas as instituições ou pessoas que você deve e seja transparente quanto a sua situação. Tente renegociar com todas elas, mas CUIDADO: só aceite um novo acordo se realmente puder honrar.

Caso contrário, vira aquela bola de neve e fica ainda mais difícil, além da sua credibilidade, que fica comprometida caso não cumpra com o que foi acordado. É muito importante que você esteja atento não somente ao valor das parcelas, mas também à taxa de juros, ao custo efetivo total envolvido. No geral, vejo as pessoas só de olho na parcela, se cabe no bolso e esquecem dos juros, que podem ser absurdos.

Com isso, realmente o ideal é priorizar quitar as dívidas que têm os juros mais altos. Mas nem sempre vai ser possível, porque pode acontecer de uma dívida com um amigo ou familiar tirar o sono porque você não se sente à vontade quando encontra essa pessoa. Nesses casos, termina sendo priorizado esse pagamento.

Para quem tem algum patrimônio, bem ou gera renda, é ainda mais viável quitar dívidas e viver organizado financeiramente. Requer tempo, estratégia e disciplina. É fundamental reorganizar e adequar as despesas, e para muita gente, claro, procurar possibilidades de gerar novas receitas para ajudar nessa fase.

E sem dúvidas, é extremamente válido a mudança de mentalidade financeira. Ao longo da vida, passamos por várias fases: apertos, mais abastança, ganhos, perdas… e o mais importante é buscar e manter a inteligência financeira, a melhor percepção quanto ao momento que se vive e a busca pelo equilíbrio.

Abraço e até a próxima!!!